Mineração e o timing para investir

Por Marcelo Xavier*

O momento atual é bastante crítico para a mineração no Brasil e, em especial, para o minério de ferro. Cotações de preços em queda, baixa demanda do principal mercado consumidor, dificuldade em atrair capital, conturbado momento econômico e político do País.

Some-se a isso o fato de que a decisão de investir em projetos de mineração é muito complexa. Além da necessidade da realização de estudos para avaliar a viabilidade econômica, possíveis impactos ambientais e o elevado custo dos investimentos, as empresas interessadas precisam levar em consideração a competição existente entre as empresas do setor; a incerteza da demanda do produto; muito atrelada ao ritmo de crescimento da economia mundial, em particular da China; as flexibilidades gerenciais (para expandir as capacidades de produção ou de escoamento) e a questão da irreversibilidade dos investimentos.

As estratégias de investimento precisam ser construídas a fim de que eles sejam realizados em momento ótimo, com o objetivo de maximizar o valor esperado do fluxo de caixa dos projetos. Muitas ferramentas de decisão podem e devem ser utilizadas, desde modelos tradicionais de avaliação econômica de projetos (TIR, VPL, Payback) até matrizes de decisão.

Há, ainda, um fator muito importante, que é o timing, a hora de tomar a decisão de iniciar o projeto, dado que a oportunidade de investimento é limitada a uma “janela de oportunidade”, com a qual se busca a maximização do valor do projeto.

Como alternativa aos projetos greenfield – de longo prazo e de alto investimento –, temos sugerido às mineradoras a adoção de ações pontuais em projetos correntes, com vistas à obtenção de melhorias na eficiência operacional. Além de exigirem prazo menor para sua implementação, estes projetos envolvem investimentos mais baixos e podem focar áreas específicas da cadeia produtiva. Um exemplo é a atualização de equipamentos como medida profilática para eliminar paradas não programadas para manutenção, que prejudicam o processo produtivo. Desse modo, os resultados são mais rapidamente percebidos, com reflexos no aumento de produtividade, uso mais eficiente de energia e menor custo de produção.

Em momentos em que a economia está desacelerada, a grande questão a ser respondida é “quem acredita na retomada do mercado” e, por conseguinte, investirá primeiro. O que se observa na maioria dos casos é que a empresa líder de mercado é quem decide primeiro se investirá e o momento mais adequado para fazer isso. As demais, seguidoras, após observar a decisão da líder, irão avaliar o que fazer. Entretanto, a redução da vantagem competitiva do líder em relação aos demais players implica antecipação da realização do investimento por parte da seguidora.

A antecipação inteligente acontece quando o mercado ainda não vislumbrou completamente a retomada. Para ilustrar, um investimento de médio porte, greenfield, leva, em muitos casos, ao menos 15 meses para ser operacionalizado (isso sem levar em conta o prazo para a obtenção das licenças obrigatórias). Nessa fase estão contempladas principalmente as etapas de engenharia, com a definição do conceito do projeto, e a engenharia básica, ou seja, o nascedouro de qualquer projeto.

Em termos financeiros, a engenharia aqui citada representa uma parcela muito inferior a dois dígitos do custo total do projeto. O fundamento conceitual do projeto, quando realizado com diligência e qualidade, implica menor necessidade de modificações ao longo da sua implementação, manutenção do orçamento original, menos retrabalho e principalmente, cumprimento de prazos.

Em todos os cenários, de horizonte mais claro e momentos de pico de alta de preço, observa-se naturalmente uma corrida por execução de projetos, o que certamente impacta a qualidade, o custo e a assertividade dos projetos, gargalos no fornecimento de máquinas e equipamentos e carência de mão de obra qualificada. Simples reflexo da lei de oferta e demanda.

O setor de mineração atravessa uma fase interessante e sugere ser esta a hora ideal para se investir em projetos de engenharia de longo prazo por conta de custos mais baixos, disponibilidade de profissionais gabaritados, fornecedores dispostos a negociar preços e prazos factíveis. A dificuldade reside em convencer os acionistas de que um projeto de engenharia bem feito, que minimize riscos e custos de start-up da operação e que economize alguns milhões em investimentos, pode gerar retorno muito antes do esperado.

(*) Marcelo Xavier é diretor de Mineração da Pöyry para a América Latina.

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